Territórios sobrepostos, histórias entrelazadas: Acre; correrias entre fronteiras étnicas e nacionais
Metadata
Show full item recordAuthorship
Martínez Rodriguez, ErnestoPalabras clave
Explotación económicaPoblación indígena
Acre (Brasil)
Cuenca del Amazonas
Direction
Silva-Ardanuy, Manuel



Publication date
2022Fecha de lectura
2022-02-16Abstract
O proposito desta tese doutoral, tem como objetivo analisar as "Correrias" processos sociais relacionados aos conflitos entre índios e brancos, em fase de atos de discórdia, divergência e entendimento, nos processos de assentamentos, ocupação e propriedade da terra, para uso dos recursos naturais (extrativismo vegetal - borracha, madeira e castanha) em detrimento de povos indígenas que a ocupavam. Na região do município de Tarauacá, nas cabeceiras dos rios Juruá, Purus Envira, Murú, Tarauacá e Jordão e seus tributários, área fronteiriça do Estado do Acre com o Peru.
Até início do século XX o Acre fez parte da Bolívia, entretanto desde meados do século XIX caucheiros peruanos iniciaram incursões no território. A partir de 1870 inicia-se uma onda de deslocamento na procura de árvores de caucho. Para conseguir extrair o caucho da Castilloa Ellástica, os peruanos derrubavam as arvores, demandando por isso grandes extensões de floresta nativa a procura das arvores gomíferas. Também n ...
O proposito desta tese doutoral, tem como objetivo analisar as "Correrias" processos sociais relacionados aos conflitos entre índios e brancos, em fase de atos de discórdia, divergência e entendimento, nos processos de assentamentos, ocupação e propriedade da terra, para uso dos recursos naturais (extrativismo vegetal - borracha, madeira e castanha) em detrimento de povos indígenas que a ocupavam. Na região do município de Tarauacá, nas cabeceiras dos rios Juruá, Purus Envira, Murú, Tarauacá e Jordão e seus tributários, área fronteiriça do Estado do Acre com o Peru.
Até início do século XX o Acre fez parte da Bolívia, entretanto desde meados do século XIX caucheiros peruanos iniciaram incursões no território. A partir de 1870 inicia-se uma onda de deslocamento na procura de árvores de caucho. Para conseguir extrair o caucho da Castilloa Ellástica, os peruanos derrubavam as arvores, demandando por isso grandes extensões de floresta nativa a procura das arvores gomíferas. Também neste mesmo interim brasileiros do nordeste principalmente oriundos do Ceará começaram a chegar, muitos deles foram assentados como cortadores de seringa nas estradas dos seringais que se estendiam por todo o território acreano. Chegaram em grande quantidade, desde a segunda metade do século XIX se tem conhecimento de migrações de nordestinos para o Acre, não apenas fugindo da estiagem da região, como também por outras motivações e anseios num movimento migratório significativo. Às vezes o governo provincial passava a interferir no apoio as idas com subsídios de passagem e políticas, para facilitar aos retirantes que desejassem migrar, outras eles mesmos cobriam as despesas da viagem, por outras vezes, eram financiados por patrões em busca de mão-de-obra para os seringais amazônicos.
A indústria da borracha lhes oferecia trabalho na Amazônia, os seringais precisavam de muitos braços, a oportunidade passava pela frente, tinha que ser agarrada, muitos nordestinos desesperados pela fome e doenças ou em busca de fortuna, se atiraram a nova aventura.
Em apertados barcos a vapor subiram o rio Amazonas, a nova vida os esperava, a nova esperança. Triste realidade, já nos próprios vapores, nos fundos das redes, enfraquecidos pela fome de anos a fio, muitos adoeciam, o paludismo, beribéri, febre amarela os esperavam, e sucumbiam desfalecidos, sem ter chegado a seu destino, antecipando assim o futuro certo para muitos, a selva úmida cobrava seu tributo.
Também lhes esperava um trabalho árduo, quase escravidão, onde a existência era em função da produção de borracha, trabalhar para viver e viver para trabalhar, dependendo em tudo da administração do seringal, do barracão que lhe fornecia o necessário para sobrevivência, ao qual sempre devia. Obrigando-se e obrigado a pagar, era mantido a contragosto na "estrada" designada para recolher o látex, ate saldar a sua divida, fato este que rara vez ocorria.
Sabemos que a ocupação por brasileiros na região Boliviana do Acre, principalmente por nordestinos, na formação dos primeiros seringais no Acre, deu-se a partir de 1870, fontes estudadas apontam que em 1913, na calha do rio Juruá contava em torno de 40 mil migrantes, na sua maioria cearense, e no Purus 60 mil.
A chegada dos seringueiros brasileiros não foi passageira, na exploração da Hevea Brasiliensis, a borracha é extraída de cortes feitos regularmente, processo que preserva a árvore. Por isso o assentamento nas estradas extrativista foi duradouro, mesmo com as especulações dos altos e baixos do mercado internacional da borracha.
Junto com os seringueiros chegou também à violência, mais cruel e organizada. Assentados em distantes estradas para o corte de borracha, enfrentaram por um lado os perigos do isolamento e a exploração desumana, exercida a maioria das vezes pelos patrões seringalista donos dos assentamentos, e ainda os perigos de residir em floresta hostil, não se tratava de abrir novas estradas também era "limpar" a área de índios brabos.
O contato com grupos indígenas da região não foi pacífico, povos tradicionais sofreram violência por parte dos exploradores que além de ser mortos velhos e crianças, escravizados os homens, prostituídas as mulheres jovens, trouxeram dentre outras coisas, doenças. A reação dos indígenas foi recíproca, matar, roubar e inclusive canibalizar seus inimigos.
Neste contexto de atritos entre brancos e índios e ainda entre índios e índios, enfrentando e reabrindo velhas rixas territoriais, "polinizando" conflitos entre grupos indígenas, inclusive abrindo espaço para enfrentamentos entre indivíduos do mesmo grupo étnico, as Correrias foram segurança aos seringueiros, que não conheciam a floresta, mais também outros interesses estavam ocultos, ampliar as estradas nos assentamentos para que novos seringueiros fossem alocados e a produção aumentada.
A mentalidade prevalecente na época justificava o genocídio, já que os brancos consideravam os índios como uma ameaça em potencial para sua segurança precisando ser afastados ou eliminados, tal visão não impediu que os brancos se aliassem a determinadas grupos indígenas que em troca de favorecimento participavam de algumas Correrias contra índios não contatados às vezes da mesma etnia; jogar índios contra índios era uma tática de guerra muito usada e eficiente em tempos de Correrias. Entretanto, nem todas as Correrias eram organizadas para matar ou expulsar totalmente os índios "hostis", muitas delas foram organizadas para arregimentar e incorporar braços escravos aos interesses das empresas seringalistas.
Um inegável aspecto das Correrias é na verdade, o fato de que constituíram genocídio aos povos indígenas que habitavam as áreas de interesse para a indústria da borracha e as serrarias. Foram sometidos a violência extrema, física, moral e cultural, resultando o desaparecimento de várias etnias de povos tradicionais.
A ocupação de fato do território acreano não foi, contudo, uma entrada triunfal para um futuro promissor. Muitas foram às vidas que sucumbiram nesse avanço. Em certas regiões privilegiadas pela abundância de arvores gomiferas, como a do Purus, por exemplo, a ocupação foi feita de modo intenso e contínuo, embora o silvícola não houvesse oposto grande resistência, ainda assim o desbravamento se deu a custa de muitas vidas. Em outras regiões acreanas, como a bacia do Vale do Juruá, a resistência dos nativos foi árdua e penosa e só foram cedendo o campo aos cariús por meio do trovejar das balas contra o zumbido das flechas envenenadas.
Neste aspecto quando analisarmos as agressões entre índios e não índio, na região dos rios Tarauacá, Murú, Jordan, Envira, Juruá e outros no Estado do Acre, não têm dúvida em identificar quem primeiro agrediu a quem. Os proprietários tradicionais das terras acreanas onde se organizaram os seringais desde finais do século XVIII, eram sem rastro de dúvida os indígenas. Contra povos tradicionais; kaxinawá, Araras, Arauaques, Kulimas, (apenas para citar alguns entre mais de 50 etnias identificadas no Acre) o homem branco utilizou de todos os meios disponíveis para expulsar-lhes das áreas de interesse econômico principalmente para a indústria da borracha e posteriormente para a indústria madeira e finalmente na transformação dos seringais em grandes fazendas de gado e agrícolas. Os nãos indígenas foram os responsáveis da diminuição demográfica indígena. Para isso o homem branco praticou assassinatos inicialmente pelos coletores de droga do sertão, pelos seringalistas brasileiros através das correrias, doenças transmitidas pelos brancos, assassinatos cometidos por caucheiros peruanos e soldados bolivianos e assassinatos cometidos por capangas de fazendeiros a partir da segunda metade do século XIX. Os índios nunca abriram mão de suas terras sem colocarem em prática várias formas de resistências, dentre as quais o confronto com o homem branco. Não entanto no contexto das Correrias, podemos não colocar o indígena, "o bosquesino brabo" apenas como vitima passiva de genocídio. Eles lutaram e muito contra o avanço do homem branco, os índios sempre com inferioridade tecnológica, arcos e flechas contra balas de winchester. Porém as correrias trouxeram ao conhecimento deste pesquisador, outras facetas de conflitos, a guerra entre indígenas, que longe de se unirem para combater o "branco usurpador" e o extermínio completo (de etnias indígenas menos populosas), expunha a continua lutas intér étnicas, motivadas por vinganças ou por limitar o crescimento demográfico, a superexploração da caça e outros recursos naturais ofertados pela região habitada. Permitindo maximizar as condições de sobrevivência e bem-estar material. Hostilidades entre aldeias seria o produto da disputa por mulheres ou mais exatamente, por recursos reprodutivos, ou ainda pela consequência da introdução de ferramentas de metal, que alterava substantivamente a economia e politica nativa.
Estabelecendo a guerra parâmetros comportamentais das relações entre comunidades, quanto mais guerra houver, menos unificação haverá. A guerra aparece como expressão de troca não importa as "coisas trocadas"; se corpos mortos ou vivos, se mulheres dadas ou raptadas, se objeto ofertados ou tomados, se palavras de amizade ou inimizade. A guerra envolve no caso de nosso projeto os confrontos entre; 1) índios e brancos; 2) índios brabos contra brancos e índios; 3) índios contra índios, e ainda outras variáveis que já foram identificadas; militares peruanos/brasileiros contra índios arredios brabos e/ou "semi contactados" como os classificam pesquisadores peruanos.
Descripción
Programa de Doctorado en Historia y Estudios Humanísticos: Europa, América, Arte y Lenguas
Línea de Investigación: Historia y Estudios Humanísticos: Europa, América, Arte y Geografía
Clave Programa: DHH
Código Línea: 121
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